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23 de outubro de 2024DIA DE FINADOS, TEMPO DE REFLETIR
Evaldo D´Assumpção – Médico, Biotanatólogo
Dia dois de novembro passado, foi o dia em que os viventes visitaram os mortos, nos cemitérios. Levaram flores, sentaram-se à beira do túmulo, deixaram os pensamentos se perderem no passado. Lágrimas rolaram na face, evocando imagens de antanho.
Alguns questionaram a sua própria morte, outros preferiram passar longe dos cemitérios. Pensar sobre a morte? Jamais!…
Médico formado em 1963, só em 1978 descobri uma nova ciência, até então totalmente desconhecida no Brasil, chamada Tanatologia. Ela fora desenvolvida pelas médicas Cicely Saunders, na Inglaterra, e Elisabeth Kübler-Ross nos EUA. Ambas trabalhando, nos anos 60, com enfermos em fase terminal da doença, e sem possibilidades de cura. Depois, com o luto dos sobreviventes.
Decidi estudá-la, e fascinado por ela, promovi cursos e seminários divulgando-a. Publiquei centenas de artigos e alguns livros, a maioria publicada pela Ed. Vozes. E, com a experiência nesse trabalho, conclui que seu nome certo deveria ser Biotanatologia. Bio, que em grego significa vida, Thanatos, que é o deus da mitologia grega representativo da morte, e Logos, também do grego, com o sentido de conhecimento. Resumia assim, o que ela realmente é: a morte nos proporcionando conhecimentos para melhor viver a vida. Ou seja, é a vida sendo ensinada pela morte. Com isso, desaparece o temor, e cresce o amor.
Seu principal ensinamento é a impermanência de tudo e de todos. A pretensão à imortalidade, nessa realidade temporo-espacial, é uma utopia que gera ansiedade e medo. Constatando-se a sua falácia, vira pavor, pânico. A segurança do carro blindado, a fortaleza de uma casa indevassável, a fortuna amealhada (nunca suficiente…), que se supõe proporcionar sono seguro, são somente fumaça que o sopro da morte leva sem qualquer cerimônia. Quantos se cercam de recursos materiais sofisticados, com alta tecnologia, numa velada tentativa de fugir da morte. Quantos deixam de lado a simplicidade do viver, o bucolismo da despreocupação responsável, tudo porque buscam ilusória garantia de vida perene. Quantos saem de casa enraivecidos, depois de uma discussão banal, sem pensar que poderão não retornar para uma reconciliação. Ou, se o fizerem, poderão já não ter com quem resgatar o relacionamento perdido. Quantos se preocupam com o que vão amealhar, sem pensar que um dia tudo deixarão, e suas mãos estarão vazias ao partir. Nascemos nus, e nus chegaremos na outra vida. Daqui, só se leva a vida que levamos. Quantas oportunidades perdemos para dar, ou pedir um perdão, reconhecendo que errar não é um fracasso, mas apenas uma condição própria dos humanos. Quantas outras se perdem para dizer a alguém que a amamos, e para dela ouvirmos que somos amados.
Diante da morte, questiona-se o que existe depois. Na verdade, ninguém nunca voltou para contar. E quando pretendem fazê-lo, somente fazem reproduções dessa vida, porque é a única que realmente conhecemos. Afinal, com a nossa razão, a nossa intelectualidade, somos totalmente incapazes, até mesmo de imaginá-la.
Por que nos preocuparmos em descobrir como será a outra vida, quase sempre perdendo tempo de desfrutar tantas coisas boas que essa vida está nos proporcionando? Especialmente levando-se em conta que, a outra vida, certamente será desfrutada proporcionalmente com a maneira que vivemos essa vida que nos foi dada.
Médico, Cirurgião Plástico. Escritor. Biotanatólogo e Bioeticista – Membro Emérito e Presidente (2006-2008) da Academia Mineira de Medicina; Membro Emérito da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, do Instituto Mineiro de História da Medicina; da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e Academia Campo-belense de Letras; Fundador, Membro e Conselheiro da SOTAMIG – Sociedade de Tanatologia de MG, Departamento de Tanatologia da Associação Médica de MG; Senior-Member of ADEC – Association for Death Education and Counseling (EUA); Ex-Professor de Ética, por concurso, da PUC-MG; Professor-Convidado de Bioética e Biotanatologia da Faculdade de Ciências Médicas de MG. APOSENTADO. Rua Guaraci Gomes 426, Balneário de Castelhanos – Anchieta/ES – Whatsapp: (28) 99992-9269 – E-mail: evaldo.edite@gmail.com