DISTRIBUIÇÃO: SAGRADA FAMÍLIA, HORTO E REGIÃO

 Consciência Negra
29 de novembro de 2024
Moradora do Sagrada Família é destaque internacional
29 de novembro de 2024
 Consciência Negra
29 de novembro de 2024
Moradora do Sagrada Família é destaque internacional
29 de novembro de 2024

Guardados da Memória

Nesse artigo, vou falar de SAUDADE.  Saudade de um tempo.  Saudade de um bairro. Saudade do canto dos passarinhos: tico tico, bem te vi, pardais, fogo apagou e outros, nos galhos das árvores. Saudade das casas com jardins…

Hoje o nosso bairro é assim: Grande! Moderno e antigo. Alegre e nostálgico. Calmo e agitado.

Casas que viraram prédios. Varandas que viraram salas. Alpendre que virou palavra em desuso, existindo apenas na memória de alguns poucos moradores.

No tempo do alpendre e das varandas, as casas do bairro se enfeitavam de margaridas e rosas. .As begônias com suas folhas pintadas ofereciam cachos rosados de flores delicadas e as dálias se exibiam como bailarinas dançando ao sabor do vento.

Era uma época de simplicidade: canteiros, jardineiras, cercas vivas e samambaias, conviviam harmoniosamente nos alpendres e varandas.  

Os jardins contavam histórias dos seus donos e dos seus gostos. Nas casas mais pomposas via- se rosas, margaridas, camélias e jasmins nos jardins. Já nas casas mais simples, a espada de São Jorge protegia a entrada, junto com um pé de arruda e outro de guiné. Aquelas escolhas davam pistas silenciosas do modo de estar e de ser de cada família.

Várias crianças tinham o hábito de pedir flores para dar de presente à professora. Ou mesmo para enfeitar o altar da igreja freqüentada. O pedido, geralmente era aceito de bom grado.

Outro hábito saudoso desses tempos era o de pedir muda das plantas dos jardins uns dos outros. Desse modo, os jardins se misturavam. Contavam novas histórias sobre pessoas e suas mudanças.

A história do bairro também mudava. Ruas antes calçadas com pedras eram asfaltadas. Lotes que se ofereciam como abrigo para plantas silvestres viravam casas. Vizinhos novos chegando e chegando, exigiam espaço para construção de mais moradia. Aí, os prédios ganhavam destaque, empilhando histórias de vida, num sobe e desce de elevador.

Os jardins e alpendres perdiam lugar. Isso tudo sem falar nas mudanças no comércio do bairro. As antigas vendas e suas cadernetas de anotações, deram lugar às padarias, supermercados e mercearias com caixas eletrônicos de débito ou crédito.

A palavra empenhada do comprador com a promessa do dia de acerto, deu lugar ao não autorizado, explicitado pela máquina de cartões. 

Sinto saudades desses tempos e fico pensando no quanto nos distanciamos uns dos outros em nome do tal desenvolvimento. Sem tempo para reparar o sentido das palavras, não nos damos conta de que desenvolver é, deixar de se envolver.

Continuamos vivendo a contradição que o mundo moderno nos impõe: somos desenvolvidos. Não plantamos mais os nossos próprios jardins. Contratamos um paisagista e que ele dê conta “disso”. Não empenhamos mais a nossa palavra. Ao invés disso, usamos o modo crédito em tantas quanto a máquina nos liberar.

Nada de caderneta para acerto no final do mês. Nada de promessa feita com aperto de mãos e palavras de compromisso.

Hoje não plantamos mais os nossos jardins. As borboletas, que antes pintavam o céu com seus tons de azul, amarelo, alaranjado e branco, são peças decorativas nas paredes dos apartamentos em cerâmica ou metal. Pássaros, existem nas gaiolas e segundo li no facebook, pássaro preso não canta. Lamenta.

Mas, é tempo de paz. É tempo de desejar Feliz Natal e Feliz Ano Novo.

Cheia de saudades eu desejo que em 2025 a gente se envolva mais. Desejo jardins plantados pelas nossas próprias mãos. Desejo trocar mudas com meus vizinhos. Desejo acreditar nas palavras bem-ditas pelas pessoas. Desejo borboletas voando pelo nosso bairro levando mensagens de jardins a vista.

                                                                                                                                      FELIZ 2025

Comments are closed.